quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um presente para um estudante de Direito

JAMQ
          Quantas vezes nós nos deparamos com dilemas dos mais improváveis? E quantas vezes nos vemos em uma guerra interna que parece querer nos rasgar ao meio? Quantas perguntas, amigo, nos fizemos que tinham duas ou três respostas corretas? Tudo isso que ronda o nosso pensamento é o embate constante de valores que nos vêm na forma mais pura de signo à conscîencia: o verbo.
          Justiça? Dignidade? Igualdade? Os conceitos são tão absurdamente imprecisos que quando buscamos a especificação de um somos violentamente assaltados pelo seu oposto. Basta pensar em liberdade e logo estaremos todos presos. E se existem coisas sobre as quais, inicialmente, não resta muita dúvida, há também aquelas cujo método humano nunca poderá precisar. E existem ainda outras sobre as quais até os deuses fazem guerra.
          Em meio a esse caos infinito, manobra o profissional do Direito. Perlustando o universo da linguagem esse artífice dialético elege a verdade de modo tão sutil que aos ouvidos menos treinados não há uma imposição e sim uma descoberta. E essa é a mágica do Direito. Afinal, o que é o Direito, senão o império do verbo?
          Nesse sentido, faz da sua espada e do seu escudo a palavra e use-a com sabedoria, humildade e responsabilidade. O Direito não é algo que se impõe com um martelo, nem é algo que se mede com uma balança, o Direito será o que você escrever. Use bem a sua caneta.

terça-feira, 10 de maio de 2011

As Bolsas de Valores 06

Títulos e Ações
JAMQ
Revista de economia destaca Ações de Primeira Linha
          Títulos são instrumentos financeiros negociáveis com correspondência em valor monetário, são papéis vendidos por governos ou empresas ao mercado financeiro para a obtenção de recursos. Um título é uma espécie de contrato de empréstimo no qual o tomador do recurso faz uma promessa de pagamento, à ordem da importância emprestada, acrescida de juros convencionais (estipulados no contrato), caso este título seja prefixado, dos juros mais correção monetária, caso seja pós-fixado ou do valor do título no momento, caso ele tenha caráter flutuante.
          Os títulos são o objeto de trabalho das bolsas de valores, são categorizados de várias maneiras e recebem nomes específicos de acordo com suas características e funções para facilitar sua identificação e as transações com eles. Entre os vários tipos de títulos, vale dar especial atenção às ações que são os títulos mais conhecidos e, talvez, os mais negociados.
          As ações são títulos representativos de igual valor e que representam a menor fração do capital social de uma instituição. Os donos das ações são considerados sócios ou co-proprietários da instituição e recebem, de acordo com o volume de ações que detém, a parcela dos lucros que lhes cabe, seja na forma de dividendos distribuídos ou na forma de valorização dos seus títulos.
          Conforme a natureza dos direitos ou vantagens que as ações conferem a seus titulares, elas são classificadas como ações Ordinárias Nominativas ou como Preferenciais Nominativas, conforme a liquidez do papel são divididas em “blue chips” (Primeira Linha) e Segunda Linha. São classificadas ainda pelo grau de capitalização, divididas em “large”, “mid” e “small caps” e pelo tipo de mercado a que são destinadas, onde são divididas em Lote Padrão e Lote Fracionário.
          As ações Ordinárias Nominativas (ON) conferem a seus titulares, além da participação nos resultados econômicos, o direito de voto nas Assembléias Gerais (um voto por ação) e de participação na eleição da diretoria/conselho diretor. Nas sociedades abertas (as que são negociadas publicamente) não pode haver distinção de classes ou privilégios entre as ações.
          As ações Preferenciais Nominativas (PN) oferecem ao titular prioridade na distribuição de dividendos, fixos ou mínimos, e, no caso de dissolução da empresa, no reembolso de capital. As ações PN não concedem direito a voto e admitem distinção de classes de ações, comumente denominadas PNA e PNB.
          As ações do tipo “blue chips” tem grande volume sendo negociado e um grande número de acionistas vendedores e compradores, ao passo que as de segunda linha são destinadas são menos negociadas. As ações “large caps” são para alta capitalização empresarial, as “mid caps” são para um nível médio de capitalização e as “small” para baixa capitalização. Ações do tipo “small caps” são, tradicionalmente, do tipo de segunda linha.
          As ações de Lote Padrão são destinadas aos Mercados Integrais e apresentam múltiplos da quantidade estabelecida como lote padrão para a negociação. Essa quantidade de títulos prefixada pelas bolsas de valores atende à demanda dos grandes investidores que podem mobilizar o montante necessário para adquirir um lote inteiro de ações. Já as ações de Lote Fracionário destinam-se aos Mercados Fracionários e apresentam uma quantidade de ações inferior àquela prefixada pelas bolsas. Essas negociações ocorrem num mercado paralelo e são destinadas aos investidores de pequeno porte.
          Com isso vocês agora não são mais leigos no assunto e agora já estão aptos a compreender melhor as notícias televisivas. Existem ainda muitas informações sobre o assunto mas, com esse texto vocês já tem uma boa base para aprofundar seus estudos sobre economia.
          Abraços!

          Veja as outras postagens sobre o tema: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4 e Parte 5

As Bolsas de Valores 05

Funcionamento
JAMQ
          As bolsas de valores são instituições com múltiplas atribuições, mas, como função, de modo resumido, pode-se dizer que elas existem para coordenar as negociações de títulos. Essa coordenação depende de um conjunto de regras e definições, ou um ordenamento de códigos que dirigirão o fluxo de ofertas de títulos de maneira ordenada aos investidores. Para tanto, o mercado de títulos foi dividido em dois: mercado primário e mercado secundário.
          O mercado primário é onde há a colocação inicial de um título ou de um novo lote de títulos e onde o emissor toma e deposita recursos. O lançamento de ações novas no mercado, por exemplo, é chamado de lançamento público de ações e ocorre no mercado primário.
          Nesse exemplo, o capital social é aberto à apreciação pública através da contratação de instituições especializadas (bancos de investimento, sociedades corretoras e distribuidoras) que formam um grupo de instituições financeiras para mensurar o valor do capital social e definir o valor das ações, comprando-as da empresa e repassando-a ao mercado público no que se chama de Oferta Pública Inicial (IPO).
          Outra operação realizada no mercado primário é a de resgate de ações. Nesse tipo específico de transação ocorre o aporte de recursos por parte do emissor que os retira do mercado secundário.
          As vantagens de se operar no mercado primário incluem a possibilidade de adquirir ações de boas empresas que estão realizando sua IPO por um preço de lançamento depreciado o que pode, em pouco tempo, gerar bons ganhos e a possibilidade de contribuir diretamente com a reserva financeira da instituição para novos investimentos. Como desvantagem tem-se o problema de operar títulos que nunca foram negociados e que, portanto, não têm gráficos/histórico de flutuação para ser analisado.
Operar no mercado primário pode gerar grandes lucros em pouco tempo
          O mercado secundário é onde ocorre a negociação contínua dos papéis emitidos no passado. Nesse mercado ocorre o maior volume de negociações e aqui as negociações tomam caráter tipicamente especulativo já que o valor da transação não vai para a reserva financeira da instituição e sim para o proprietário dos papéis.
          Nas bolsas de valores, só se opera nesse mercado através de uma sociedade corretora membro de uma bolsa de valores. Entretanto, transações no mercado secundário podem ocorrer em bancos, corretoras de valores, em negociação direta entre acionistas celebrada por meio de um contrato de compra e venda ou em pregões eletrônicos que, mais recentemente, tem se popularizado no Brasil.
          As desvantagens desse mercado incluem o caráter especulativo das negociações e uma flutuação menos intensa nos valores das ações. Já como vantagem, existe a possibilidade de utilizar gráficos e históricos para mensurar os limites de variação e definir as tendências de comportamento dos valores das ações.
          Os dois mercados, primário e secundário, funcionam de maneira coordenada e interdependente, o primeiro fornece os papéis para o segundo e permite a entrada de títulos e a conversão do capital especulativo em capital produtivo enquanto que o segundo estabelece os valores das ações para o mercado primário e proporciona a liquidez do sistema mantendo os títulos em constante negociação.
          Contudo, as bolsas de valores não poderiam funcionar sem um objeto para negociar. Claro, vocês não vão a um mercado que não tem produtos e os investidores não iriam às bolsas se não existissem títulos e ações para serem negociados. Na próxima postagem, encerrando esses artigos, vocês verão um pouco sobre o objeto de trabalho das bolsas de valores.

          Veja as outras postagens sobre o tema: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4 e Parte 6

As Bolsas de Valores 04

Atribuições
JAMQ
          As bolsas de valores têm múltiplas atribuições na economia. Entre elas, podemos destacar a capitalização ou levantamento de fundos para negócios, a mobilização das poupanças para investimentos, a facilitação e o aumento do crescimento das companhias, a divisão dos lucros, a governança cooperativa, a inclusão dos pequenos investidores nos grandes negócios, o financiamento dos projetos dos governos e como termômetro da economia.
          Como promotora de capitalização ou como canal para levantamento de fundos para negócios, as bolsas de valores atuam permitindo que as companhias ofereçam cotas e ações no mercado público de investidores e, com as vendas, levantem fundos e promovam a expansão de capital necessária para financiar seus investimentos.
A PETROBRAS é listada na New York Stock Exchange
          As bolsas de valores mobilizam as poupanças para os investimentos quando o gestor de um fundo de poupança realoca o capital que seria consumido ou mantido em ócio nos bancos para o financiamento das necessidades das companhias e organizações. Isso traz vários benefícios para econômica em diversos setores, como a agricultura, o comércio e a indústria, resultando em um crescimento econômico mais forte e sólido e num nível maior de produtividade para as empresas. Contudo, a alocação dos recursos da poupança é um desafio para o gestor que deve avaliar os riscos envolvidos no investimento e os prazos para resgate.
          As companhias, através das bolsas de valores, podem expandir seus negócios, linhas de produtos, canais de distribuição, melhorar sua reserva de capital, diminuindo a volatilidade, ou, ainda, adquirir os ativos de outros negócios, com uma proposta de compra ou fusão. As operações de crescimento por aquisição ou fusão, notadamente, são comumente feitas através do mercado de ações por conta da facilidade que esse meio oferece para a concretização desse tipo de negócio.
A fusão de Perdigão e Sadia aguarda aprovação do CADE
          Os investidores de ações profissionais e casuais, através dos dividendos e das flutuações nos preços das ações, podem auferir lucro sobre a atividade produtiva das empresas inseridas no mercado de ações. Esse mercado que existe ‘sobre’ o mercado produtivo trabalha com valores associados à saúde das empresas e à demanda pelas suas ações e proporciona a partilha das riquezas.
É possível fazer fortuna através das bolsas de valores
           A oferta de cotas e ações nas bolsas de valores promove, também, a gestão compartilhada das companhias (governança corporativa). Isso quer dizer que, por terem um amplo e variado escopo de proprietários, as companhias tendem a melhorar sua administração e eficiência para satisfazer às demandas dos seus acionistas. Por isso, alega-se que as empresas públicas (cujas ações pertencem ao público em geral e são negociadas em bolsas públicas), têm um melhor gerenciamento que as privadas (cujas cotas não são negociadas publicamente e que pertencem aos fundadores e familiares ou à um reduzido grupo de investidores).
          Essa tendência, no entanto, não é uma garantia e há vários exemplos de empresas públicas que foram mal administradas (Parmalat (2003), Lehman Brothers (2008), GM (2009)). Contudo, quando um grupo de gestores não administra bem a companhia, por, falta de ética, de habilidade gerencial ou outro motivo qualquer e essa falha se torna conhecida pelo mercado de ações, as cotas da companhia tendem a perder valor. Seus acionistas, então, são penalizados com prejuízo pelo declínio no preço da sua propriedade e normalmente demitem os grupos de administradores incompetentes.
          As bolsas de valores também criam oportunidade para que os pequenos investidores participem de grandes negócios uma vez que, diferentemente de abrir uma grande empresa ou adquirir uma companhia inteira, a negociação de ações permite que grandes e pequenos investidores atuem comprando o número de cotas que seu volume de capital permitir.
          Além disso, as bolsas de valores servem de credores para os governos oferecendo os títulos da dívida pública aos investidores. Com esses empréstimos, os governos podem financiar seus projetos públicos, como saneamento, habitação, infra-estrutura pesada, entre outros. Esse mecanismo evita que os governos tenham que criar mais impostos e taxas para seus cidadãos para arcar com os custos dos seus empreendimentos, amortizando, assim, o impacto dos gastos do Estado.
          Finalmente, as bolsas de valores são um ótimo termômetro econômico que indica, de acordo com o valor das ações e com o volume negociado nos pregões, as tendências do mercado. Isso porque os preços das ações oscilam dependendo das forças do mercado (oferta e demanda) e tendem a acompanhar o ritmo da economia, refletindo seus momentos de retração, estabilidade ou crescimento. Uma recessão, depressão, ou crise financeira, por exemplo, pode levar a uma queda (ou quebra) do mercado. Desta forma, o movimento dos preços das ações das companhias e, de forma ampla, os índices das bolsas são um bom indicador das tendências da economia.
          Essas são as principais atribuições das bolsas de valores. Vejam, na próxima postagem, um pouco sobre seu funcionamento.
          Veja as outras postagens sobre o tema: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 5 e Parte 6

As Bolsas de Valores 03

História das Bolsas no Brasil
JAMQ
Dom Pedro II
          No Brasil, as bolsas de valores iniciaram seu funcionamento, oficialmente, em 1845, quando o imperador, Dom Pedro II, regulamentou a profissão de corretor de fundos públicos. Aqui, as bolsas de valores eram entidades oficiais e os seus corretores eram nomeados pelo poder público.
          Em 1890, Emílio Pestana fundou a Bolsa Livre, que fechou as portas 1 ano depois, em decorrência da política do Encilhamento, que aumentou a inflação e abalou a credibilidade do mercado financeiro brasileiro com especulação desenfreada e um número sem-fim de empresas fantasmas.
          4 anos mais tarde, em 1995, foi aberta a Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, que veio dar continuidade à evolução do mercado de capitais brasileiro. Ela se instalou no Palácio do Café em 1934 e, em 1935, mudou seu nome para Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, surge, então, a Bovespa.
          Até então, as bolsas de valores eram entidades corporativas oficiais e após as reformas do sistema financeiro e do mercado de capitais em 1965-1966 houve a desvinculação das bolsas das secretarias de finanças dos governos estaduais e a figura do corretor de fundos públicos foi substituída pela da sociedade corretora nas formas de sociedade por ações nominativas ou de cotas de responsabilidade limitada.
          Com isso, as bolsas assumiram a característica institucional, transformando-se em associações civis sem fins lucrativos, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Em 1967, depois da reforma, a Bovespa passou a se chamar Bolsa de Valores de São Paulo.
          A Bovespa, então, foi acumulando volume de negócios até superar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e, em 2000, as duas se integraram, cabendo à BVRJ a negociação de títulos da dívida pública e à Bolsa de Valores de São Paulo a negociação dos demais títulos.
          No mesmo ano, porém, a Bovespa passou a negociar todos os títulos, concentrando as transações de ações do Brasil, quando houve a integração das bolsas de valores de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas-Espírito Santo-Brasília, do Extremo Sul, de Santos, da Bahia-Sergipe-Alagoas, de Pernambuco, da Paraíba, do Paraná e a Bolsa Regional.
          Paralelamente, crescia em volume de negociações a Bolsa de Mercadorias & Futuros. Ela se origina de duas bolsas, uma fundada com o nome de Bolsa de Mercadorias de São Paulo, em 1917, por empresários paulistas ligados à exportação, ao comércio e à agricultura e a outra em 1985, com o nome de Bolsa Mercantil & de Futuros.
BMF&BOVESPA
          Negociando principalmente café, boi e algodão, a Bolsa de Mercadorias de São Paulo inovou introduzindo as operações a termo. A BM&F, por sua vez, passando a operar em 1986, conquistou rapidamente posição de destaque entre as commodities exchanges negociando contratos futuros, de opções, a termo e a vista, referenciados em índices de ações, ouro, taxas de juros e taxas de câmbio.
A capitalização da PETROBRAS elevou a BMF&BOVESPA à posição de 2ª maior bolsa de valores do mundo
          Em 9 de maio de 1991, BM&F e BMSP resolvem fundir suas atividades, aliando a tradição desta ao dinamismo daquela. Surge então a Bolsa de Mercadorias & Futuros – mantendo a sigla BM&F - cujo objetivo era desenvolver mercados futuros de ativos financeiros, agropecuários e outros.
          Em 2008, com a integração da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), cria-se a BMF&BOVESPA, principal instituição de negociação de ações e títulos do Brasil e 2ª maior do mundo (após a capitalização da Petrobrás) em volume de negócios.
          Agora que vocês já sabem como as bolsas se formaram podem avançar para as suas atribuições e entender melhor a importância dessas entidades, tema da próxima postagem.

          Veja as outras postagens sobre o tema: Parte 1, Parte 2Parte 4, Parte 5 e Parte 6

As Bolsas de Valores 02

História
JAMQ
Ação da Companhia Holandesa das Índias Orientais
          Os mercados de títulos levaram séculos para se desenvolverem. A idéia de débito, um dos requisitos para o estabelecimento das bolsas, data do mundo antigo, conforme evidenciam, por exemplo, as placas de argila da antiga Mesopotâmia que registravam em suas gravações empréstimos e o rolamento dos seus juros.
          No entanto há pouco consenso sobre o momento exato em que surgiu a primeira bolsa de valores. Vários registros apontam para diferentes datas que, se não apontam com precisão o estabelecimento exato de uma bolsa de valores, já indicam os passos e estágios até a sua formação.
          Na Roma Republicana, que existiu séculos antes da fundação do Império Romano, haviam as societas publicanorum, que eram organizações de empreiteiros e arrendatários que prestavam serviços para o governo. Os integrantes dessas organizações tinham “cotas” ou “ações”, conceito mencionado várias vezes por Cícero.
          Em um de seus discursos Cícero diz: “cotas que tinham um elevado custo à época.”. Isso evidencia que esses instrumentos eram negociáveis e tinham valores flutuantes de acordo com o sucesso das organizações. As societas, no entanto, se perderam nos tempos imperiais quando os serviços eram diretamente executados por agentes do Estado.
          As negociações de ações e outros títulos foi se desenvolvendo através dos séculos, com registros de trocas nas cidades Italianas medievais e na Renascença.
          Na República de Veneza, em 1171, para evitar o esvaziamento do Tesouro, o Estado tomou empréstimo forçado junto aos cidadãos pagando uma taxa de 5% ao ano pela dívida, que ficou conhecida como prestiti. Apesar de inicialmente mal recebido, começou a se estruturar em torno desses papéis um mercado que via os títulos como um investimento lucrativo. Assim se iniciou a venda de títulos da dívida pública.
          De 1262 a 1379, Veneza nunca atrasou um pagamento sequer, solidificando definitivamente a credibilidade dos novos instrumentos de capitação de recursos. Outras cidades-estado italianas como Florença e Gênova também começaram a emitir títulos que foram largamente negociados na Itália e além, processo facilitado por banqueiros como os Médicis.
          A estabilidade financeira dessas negociações foi afetada e muito pela guerra entre Veneza e Gênova, que forçou as duas cidades a suspender o pagamento dos prestiti por volta de 1380. Quando o mercado foi re-estabelecido o interesse era bem menor e o valor dos títulos também.
          Outros eventos, como a Guerra dos Cem Anos e a Peste afetaram profundamente a estabilidade financeira, mas, ainda assim, a idéia de negociação de títulos e seguros como investimento se solidificou.
          A vanguarda das inovações comerciais se deslocou, então, da Itália para o norte da Europa, quando a Liga Hanseática, que era uma aliança de cidades mercantes como Bruges e Antuérpia, começou a estabelecer casas para agilizar o comércio.
          Aí surgiu o termo ‘bolsa’ como sinônimo de ‘mercado de valores’. Acredita-se, apesar da imprecisão da informação, que esse termo se deve ao fato de os comerciantes irem com sacos (do latim ‘bursa’) com dinheiro para a casa de um homem chamado Van der Burse.
          Por volta de 1500, os comerciantes britânicos começaram a trabalhar com companhias de ações conjuntas para operar permanentemente, uma dessas companhias foi a Companhia da Moscóvia que objetivava negociar com a Rússia fora do domínio hanseático.
          O próximo passo foi o estabelecimento da Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1602, na bolsa de Amsterdã. Os historiadores apontam, predominantemente, esse marco como o surgimento efetivo das bolsas de valores.
          Na Companhia Holandesa das Índias Orientais, formada para o comércio de especiarias, os acionistas não tinham poder de decisão, poder este que era exercido pelos diretores da companhia. Entretanto, apesar de não influírem no gerenciamento nem terem acesso às contas da companhia, os acionistas eram muito bem recompensados pelos seus investimentos, de acordo com o volume das suas cotas. A companhia pagava aproximadamente 16% ao ano entre os anos de 1602 e 1650!
Desenho humorístico sobre a operação nas bolsas de valores
         Outras inovações financeiras lançadas em Amsterdã incluem a formação do primeiro sindicato, que, apesar da sua coordenação, falhou na tentativa de baixar os preços das ações e a primeira oferta de bônus coorporativos, em 1620. Surgiram, também, os mercados de negociação de commodities e as ferramentas de opções de compra, acordos de recompra e margem de negociação.
          Em 1688 foi publicado o primeiro livro sobre mercado de ações e bolsas de valores, escrito por Joseph de La Veja, o livro chamava-se A Confusão das Confusões. A publicação de Joseph de La Veja auxiliou a disseminação das técnicas financeiras de Amsterdam para Londres, possibilitando a modernização das finanças inglesas e ajudando a custear as guerras daquela nação.
          Uma das maiores bolhas financeiras da história ocorreu nas décadas seguintes, em 1711, envolvendo as companhias que regiam o comércio inglês para a América do Sul (Companhia Marítima do Sul) e o financista escocês John Law, que agia, também, em nome do Banco Central Francês.
          Os investidores, motivados pela crença nos lucros que viriam das duas companhias, buscaram freneticamente as ações gerando uma variação absurdamente alta e artificial do valor das companhias.
          Esse aumento estava gerando lucros e vantagens para os investidores, mas sem nenhuma solidez ou correspondência com os valores reais das duas companhias. No final do mesmo ano os preços das cotas entraram em colapso quando começou a ficar claro que as expectativas com os lucro provenientes das Américas estava superfaturado.
          Em Londres, o Parlamento aprovou a Lei de Bolha, que estabelecia que apenas as Companhias regiamente fretadas poderiam emitir títulos públicos. Em Paris, John Law foi destituído do cargo e fugiu do país.
          Esse fato minguou os negócios nos mercados de valores nas décadas subseqüentes e, como efeito positivo, demonstrou a necessidade de regulamentar os mercados financeiros para preservar sua credibilidade e assegurar o seu funcionamento.
          As bolsas de valores, no entanto, já eram um conceito formado, amadurecido e solidificado. As negociações de títulos e ações sobreviveram e em 1790, já ocorriam negociações de ações no então jovem EUA. Nos EUA, em 1971, começa a operar a primeira bolsa de valores eletrônica, a NASDAQ (Associação Nacional de Negociadores de Títulos de Cotação Automática).
          Na próxima postagem, vocês verão como as bolsas de valores se desenvolveram no Brasil.

          Veja as outras postagens sobre o tema: Parte 1Parte 3, Parte 4, Parte 5 e Parte 6

As Bolsas de Valores 01

Introdução
JAMQ
"Operadores vivem com os nervos à flor da pele."
          É comum ver em noticiários e ler em jornais notícias sobre alta e queda nas bolsas de valores, início e fechamento de pregões e mudanças nos valores das ações e a associações desses acontecimentos com os mais diversos fenômenos da vida. Entretanto, a importância dessas instituições, seu funcionamento e as implicações das oscilações dos preços das ações dificilmente é bem compreendida.
          A imagem do corretor estressado, com seus três telefones, analisando milhares de números que ficam passando em letreiros luminosos e gritando termos quase estrangeiros (quando não o são de fato) ainda marca o inconsciente coletivo e cria a idéia de que a bolsa de valores é um ambiente em que as decisões devem ser tomadas em segundos e em que os riscos dividem as pessoas entre milionários e falidos.
          Na realidade, porém, não funciona dessa maneira e os conceitos não são tão complexos quanto nos parecem à primeira vista. Por isso, agora e nas postagens seguintes, vocês vão redescobrir e desmistificar as bolsas de valores.

Linhas gerais
JAMQ
          As bolsas de valores são entidades que prestam serviços e auxílio a corretores e comerciantes para negociar ações e outros títulos. Bolsas de valores também proporcionam meios para a emissão e resgate de títulos e outros instrumentos financeiros como quitação de rendimentos e divisas. Os títulos negociados numa bolsa de valores incluem cotas emitidas por companhias, fundos de investimentos, derivados, fundos coletivos e as tão conhecidas ações.
          Para estar apto a negociar um título numa certa bolsa de valores tal título precisa estar listado/cadastrado. Geralmente existe uma localização central que é responsável pelo cadastramento e manutenção dos registros, mas as negociações estão cada vez menos ligadas a esse tipo de banco de dados seguindo a tendência de modernização e convertendo os mercados em redes eletrônicas que aumentam a velocidade e reduzem os custos das transações. Além da necessidade de cadastro dos títulos, os usuários/comerciantes precisam se associar, portanto, as negociações nas bolsas são restritas aos membros nelas cadastradas.
          Os mercados funcionam de maneira quase caótica apoiando-se na relação entre oferta e demanda, seguindo tendências, índices e informações e em vários outros fatores que afetam os preços. Assim, as bolsas de valores são o componente mais importante para um mercado de valores porque coordenam a oferta e a demanda organizando e catalogando os títulos (os produtos) e oferecendo-os aos investidores (os compradores) num ambiente mais favorável às transações.
          Não há obrigatoriedade de negociação dos títulos e ações através de uma bolsa de valores e as empresas têm total liberdade para negociar fora das bolsas (negociações off exchange ou negociações de balcão), mas tem se tornado cada vez mais comum negociar títulos, ações e derivados nessas instituições. Por isso, as bolsas de valores se tornam cada vez mais indispensáveis ao mercado global de títulos e por isso, também, entender as bolsas de valores torna-se cada vez mais importante.
          Contudo, para compreender o fenômeno que são hoje as bolsas de valores vocês terão que voltar e investigar as origens no passado e conhecer a história das bolsas de valores, tema da próxima postagem.

          Veja as outras postagens sobre o tema: Parte 2, Parte 3, Parte 4, Parte 5 e Parte 6